Avoando

Eu sempre ando avoando

meu destino não tem lado

meu passo não há translado

minha ruína beija a frente

meu dorso é epilético

minha cegueira é sóbria

minha sombra é uma dúvida

minhas palavras sorvi

meu corpo resseca ácidos

minhas veias fervem sal

meu cheiro atrai raios

meus odores agonizam flores

minha alma é ambígua

minha dor é alicerce

meu sorriso é resiliente

minhas feridas é meu chão

meu percurso não é vital

meu sangue não é frio

muito menos azul

minha raça é estranha

anda em caminhos devaneios

meus pensamentos são portas

que tentam descifrar Pandora

meus versos sugam o instante

meus poemas são falsos

e vivem alados

ao lado da morte.