CONFISSÕES DE UM MELGACENSE

Nunca saí de Melgaço.
Principalmente nasci e me criei em Melgaço.
Por isso, esse mel nos lábios,
E na alma a doçura dos que souberam silenciar suas perdas.

O bagaço das dores que tão virilmente suportei
Ao som das Canções Trovadorescas do Meu Cancioneiro,
Ao sabor dos Sortilégios Lunares
Imbuídos dos Destroços do Cotidiano
A exalar da Lira de Érato;

Esse desejo de viver intensamente em um Locus Amoenus
Longe das Estranhas Vertigens da Última Flor do Lácio
Ouvindo os Acordes da Canção entoada no Refúgio dos Pássaros;

Essa luxúria cultivada Sob o Olhar de Eros;
Essa fragrância só encontrável nas Cartas à Bem-Amada
Escritas À Margem dos Marajós sob os Feitiços da Lua
Pela Luz dos Olhos Teus;

Esses Salmos & Canções, ó Femme Fatale,
Poetizando a vida em Poemas de Forma Fixa,
Dispersos nos meandros do Cantinho da Saudade,
Proclamando que Sonetear é Preciso;

Essa voz enrouquecida de saudade,
Esse frisson de falar em público,
Essa vergonha de dar ao meu povo
O pão amanhecido de meus versos
Vem do rio Preto, afluente do Tajapuru;
Vem de Melgaço; vem das margens,
Escurecidas margens de Marinatambal!

Transpiro Melgaço em meus poros todos.
Por isso essa malemolência, essa ternura,
Esse desejo de amar a morena de ancas largas
Que vem à Praia do Jambeiro, nuinha,
Banhar-se em noite de lua cheia!

Fui cabuçu, caboclo, ribeirinho.
Hoje sou contador e funcionário público.
Melgaço é muito mais que uma fotografia na parede,
(Ó de Itabira),
É a verve que alimenta o meu cantar,
É a carícia que faz cócegas na alma.
Dói, tão deliciosamente,
Tão delicadamente, que exercito (exorcizo)
Essa dor
Nessa canção!

 

Melgaço, Pará, Brasil, 1 de fevereiro de 2020.
Composto por Jaime Adilton Marques de Araújo 
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