Autoconhecimento
De sorriso estático
E uma voz parada no tempo
Tenho a timidez de nascença
É um atraso que me alcança
Na linha oblíqua da vida
Nascido após o tempo e sem pressa
Carrego comigo uma teima
Tipicamente interiorana
De gente que insiste
Na plenitude do ínfimo
Tenho mania de gratidão
Acima das outras manias
Ao entardecer quando o sol enrubesce
As luzes em tom mercúrio na rua
Se apresentam pra lua
Faço uma prece
No firmamento alcanço a plenitude que tanto busco
Sob um céu lusco-fusco
Aprecio a brisa leve que desce
Tenho intimidade com o crepúsculo
Outra mania que não se aparta
Respeito a passagem do tempo
Como criança que vê pela primeira vez
Um catavento
Sei da importância do movimento
Do vento
Quando o sol vai embora
Ah, estas horas
Tal qual o encontro das águas translúcidas
Tão lúcidas a descer pelo rio da vida
Banho-me na fonte das horas
E a lua testemunha o encanto
Passa o tempo, no entanto
Só não passa este momento
De autoconhecimento.