Sétimo conto poético: o doce sabor do passado
Os olhos se abriram por um momento
E haviam nuvens no lugar da dor
E a mente não mais vivia o presente
Tão duro
Porque se lembrara do passado de quando era mais jovem
E tinha o privilégio do torpor
E de poder comprar doces todos os dias
Se quisesse
E sempre queria
Tudo tão diferente e melhor
Sem o tanto desse horror
Ainda que nunca ideal
Como se fosse um sonho
E não apenas uma boa lembrança
Sem guerras por todo o canto
Sem o planeta Terra mais uma vez sangrando
De sangue humano
Junto com o de boi e o de frango
E eu continuei vendo as nuvens no céu
Deitado no chão de fogo e destruição
Pensando sobre aquela minha previsão
De quando nuvens de chumbo se formavam no horizonte
E então o futuro chegou, como antes
Sem a nossa espécie ter aprendido uma vírgula
Chafurdando ainda mais em sua própria confusão
E enquanto a morte não chegava
Se era apenas o que esperava
Uma morte trágica e esquecível
Mais um corpo boiando no fluxo do rio
Mais um da espécie mais estúpida de todos os tempos
Justo a que parecia a mais inteligente
E enquanto o devaneio abrandava o meu sofrimento físico
Eu pensei que poderia ter escolhido o meu destino
Ao invés de ter me deixado com a multidão de indecisos e inertes
Mas nunca tive mais pernas que asas
Que não voam
E quando pensei em fugir pelo alto
Já estavam por todos os lados
E a rendição à maldade foi a única solução
Ser mais um na fila da injustiça
E sem qualquer proteção
E o suor da batalha perdida adocicou minha boca
amarga e seca
Ah, que tempos aqueles!!
Ah, quanta tristeza!!