Conjugado

Dentro do ouvido

entre as gotas da chuva,

o que tenho é o pálido som

daquelas dores vivas do néon

por entre as cores mortas d'um peito dolorido.

O que resta é a redundância do lobo que uiva

como um mosquito, num zum-zum-zumbido

para este zumbi que vejo no espelho

com os olhos vermelhos

e uma cabeleira ruiva.

O rosto desfigurado

não acorda com a figura de linguagem

Transfigurando-se para uma miragem

e aceitando os grilhões dos condenados.

Os verbos do teu olhar

não se conjugam no meu passado.

Aceito "qualquer" coisa apenas por "coisar"

um verbo inesperado.

Por entre causas, coisas e cruzes...

eu que ando carregado,

fumo e bebo no mesmo quadrado

num quadrilátero de luzes

de um simples conjugado.

Sou um signo de Áries...

sem acreditar no zodíaco.

O meu sorriso de hipocondríaco

esconde muito mais do que as cáries...

Esconde um bicho!

Eu te puxo

Eu me lixo...

Eu me perfumo

com as flores dos teus cabelos e com teu sumo

mas como elas, também murcho.

Aos teus olhos de amor: sou um luxo,

para o monstro do passado: sou um lixo.

Desidrato com as águas do chuveiro

que espelham o azedume do refluxo

da grande serpente do bueiro

que escondo no meu lixo.

Não é possível que o desenho das estrelas...

não possa ser a aquarela de nossas silhuetas

e seja tão somente este bicho!

Que destrói todos os meus nichos...

e empoeira todos esses livros

com a poeira que escreveria nossas ampulhetas.

Eu que te amo no presente...

quando penso no futuro, volto ao mausoléu

do bicho-torto que se faz onipresente

no tempo-morto que escurece o meu céu,

acinzentando-me..., e o que já passou para frente,

ainda permanece parado.

Nisso, sou o réu

que não sabe pousar

para sempre condenado...

a voar,

numa nuvem vermelha,

por entre beijos de mel

e ferrões de abelha.

No fim, me sobra o cigarro

dois palmos de barro...

e um simples conjugado.

O provérbio teima em me escrever:

- Vais amar sem entender

o que é ser amado,

pois tu só entendes o que é doer.

O que me resta... é voar,

pela poeira de alguns metros quadrados,

pois o teu verbo "amar"

ainda não conjuga no meu passado.

@sr.poetrus [Ronald Castelo Branco]

Teresina(PI), 26 jan. 2024.

srpoetrus
Enviado por srpoetrus em 26/01/2024
Código do texto: T7985487
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