a língua
Os lábios lembram mais que a memória,
Braços, com seus abraços, no aperto,
(conforto ou áspero)
Desfazem algumas dúvidas, mas a língua,
Ah, se o coração soubesse tanto!
Fé na última fileira de esperança,
A língua não vive do passado, nem se fervilha para o futuro.
Lambuzada, abusada, atriz impertinente,
Atraente na guerra de sangue, veia e entrega.
talvez nem fala, sequer o ambiente
A língua vai mais longe que o coração,
Cuidadoso, ele se arrasta, não corre, não mergulha.
Na chuva das montanhas, falta-lhe a certeza,
Selagem da queda, seja qual for a altura.
O abraço ainda traz certo embaraço,
A língua escorrega como o esquiador.
Na neve, como o banhista no lodo da pedra, ela escorrega,
Esquenta, beija, chupa.
Imprópria, rasa ou funda,
Elegante ou uma puta.
A língua não se segura,
Doçura do quarto, ela sabe primeiro.
Textura do sexo, ela prova a comida,
Antes que o rei seja morto.
Língua no ouvido, na boca,
Nas entrelinhas que tu já sabes.
Raízes nervosas, onde o prazer na fonte se prova.
Essa língua que mal sai de casa,
Vive entre os dentes, que também são diferentes.
Língua dura, língua pura,
Tanto bate até que fura.
O coração bate, não por ele,
Que vive em outro espaço.
Mas pela língua que não sabe de embaraço.