reencontro

Atravesso o rio, na margem oposta,

Talho no tronco a queda de tua soberba.

Agora submersa numa bacia de sangue e doçura,

Que murmura pela boca do desencanto.

Onde uma língua úmida e faminta esconde

Tua violência afiada e silenciada.

Tu eras mulher nascida de uma árvore,

Com outra brotando na tua boca de palavra.

Tomei-a como doçura e nela soube que

Rubro não é a única cor de um ferimento.

E quando preso no teu gesto mais solar,

Era tua fome camuflada de desejo.

Agora, pulsante e cravado na carne do instante,

Um colossal assombro gira como moinho no teto.

Como um ventilador sem vento, mas que carrega

Cada espinho que renova a dor do firmamento.

Na membrana da memória teus cabelos eram vastos campos,

Onde uma casa de campo foi erigida.

E teu nome golpeava cada parede,

Me contorço, no limite das coisas é vazio

E esse nada que nos compõe na mesma ponte,

Onde nossos braços estavam em chamas.

E saltamos sobre a platibanda do profano,

Era mais carne que amor, mais solidão que preenchimento,

O fogo se fez mais fogo quando as peles se acenderam,

e o amor era uma brasa imemorial e desenganado,

Embriagados esquecemos da estrada, então, o encontro,

tostados na mesma dúvida, transloucados, lançamos na água

Mais embaraçosa, não sabíamos sequer nos afogar,

Então o rio nos devolveu à terra, mas a terra já

Sabia nossos nomes e tudo que tínhamos era

A memória que nos empurrava à sombra da lua

Mais quente, sua roupa era tua pele e teu fogo

Havia se espalhado para teu ventre, de mim

já não sabia, salvo a tua vertigem que anunciava

Meu medo, era teu de novo, e de novo tu eras minha.

Se tivemos um sonho ele foi desabotoado de sua camisa,

Nos demos as mãos e procuramos nossa nova casa.