silêncio fértil
A voz da tua pele não é a mesma dos teus olhos,
Nem a voz da tua língua é a mesma dos teus lábios,
Sob as marquises, os pássaros não são
Os mesmos que dançam nas árvores, nem parecidos
Aqueles que riscam o céu, pois tua cintura conversa
Com as mãos das flores e os dedos das palmeiras.
E tu, em silêncio, não oferecias o rio mais amplo,
Nem o deserto mais desabitado, oferecias o fogo
De um ritual atualizado pela dança primordial,
Cuja emanação era o movimento da tua dança despudorada,
Que nos ensinava o código da chuva e o enigma do sol.
Toda a estrada era refrescada pelo orvalho da tua aurora,
Ao teu lado, banhávamos no lago mais fresco,
Vendo os campos pelos teus olhos, onde tudo era verde e
Em cada rochedo, uma luz impetuosa nos elevava,
O céu era um sentimento, não uma distância.
Tua presença, um ímã sutil que a todos atraía,
Uma pétala de rosa escarlate iluminava os arredores,
A escuridão era outra, a vertigem um voo de águia
Que pertencia às alturas, enquanto a pele absorvia
A vontade silenciosa e imperiosa de viver do sol.
O coração pulsava como o teu, fazendo o sangue fluir
Como o perfume de um aroma secreto,
vivo e elevado, sentimentos, como pedras preciosas,
Falando de colheita, frutos, uma terra que não era nossa,
jorrava como um vulcão em erupção amorosa.
Teus olhos flutuavam dentro dos nossos,
Águas fluíam rumo à vastidão imediata,
O amor vestia as árvores, frutos irresistíveis.
Nossas bocas os protegiam até que seu sumo
Escorria por entre nossos dedos, compreendendo uma vida
Invisível, e enervava as vontades , pernas dançavam ao ritmo,
Devolvendo à gloriosa árvore amorosa o seu conhecimento.
Folhas acetinadas como estrelas sob o sol do meio-dia,
O verde evocado, frutos e homens sedentos para
A colheita no final da estação, onde a árvore
De tudo sabia, suas folhas luminosas lançavam sementes,
Para aqueles que saltaram nas corredeiras do ser.