parto das águas

Após o parto das águas, fecundas,

na vertigem onde sons dançam e rasgam

o espaço que se desvela: o ventre se abre, acolhe

o silêncio entrelaçado à carne extrema,

onde o desejo deixou uma marca de seus dentes

e sua língua escorreu, violenta, nas corredeiras do sexo.

À margem do lago, ele crescerá,

onde peixes serão elos de satisfação, seixos, sua cama.

Lá, aprenderá que o sono forja sonhos,

e o acordado carrega pedras que, nas cheias, serão

afogadas pelas represas que explodem suas masmorras.

A imagem, reflexo que o tempo esculpe,

revelará a celebração improvável, pois o seu

sentido já está incutido em sua forma, e no

seu interior outras margens se interpõem,

e novos contextos entranham-se em suas vísceras.

O futuro será beijado pela boca da espera,

pois o tempo vem de longe e desemboca

nessa boda que a tudo beija e drena para que

continue correndo à procura de sua casa que ainda lhe escapa do coração.

Cada homem será entrelaçado a vozes herdadas,

de outros que falharam ao cruzar a floresta,

que, absorta, atrai aventureiros sem aviso.

Eles não conhecem o prato, apenas enxugam o cuspe da soberba,

e os olhos dos visitantes não se fixam na criatura.

Será um abismo novo, onde outros afundarão (o que de errado perguntar)

tentando decifrar, ou uma promessa impaciente,

que jamais se inclinará para resgatar

as razões perdidas em árvores enterradas na planície.

O sol as lambe como amante lascivo, incerto.

Até que ele cresça, e o fogo mais intenso lhe será dado,

Então, abraçará a terra fértil até ser consumido,

e se tornará broto que ninguém saberá colher seu fruto.

Dividirão o pão e o leite mais sagrado e saberão

houve mundo antes e haverá mundo depois,

que são um rasgo iluminado no coração das trevas profundas.