A desejo
A desejo, mas não como o inocente
Deseja a vida adulta, ou como o ambicioso deseja o
Mais brilhante percurso e o mais intangível carro,
Quero como a janela deseja o vento, não como a fome
Deseja o alimento, mas como o apetite quer repetir o prazer,
Não a quero como o azarado deseja a sorte, a quero como
A noite deseja a estrela, como quem anda deseja o passeio,
Não quero como o pássaro deseja o voo, a quero como o
Pássaro não prefere a gaiola, não como o telhado precisa da parede,
Mas como a primavera é mais bela no dia ensolarado, como a casa
Limpa é mais lar que a casa estiolada, não a quero como
O sexo deseja os corpos, mas como os amantes desejam a boca
do outro, a mesma boca que fala, mas que beija e excita,
não como a conversa que alivia, mas como a conversa
Que alegra, não como o rio precisa da água, mas como a água
toada de peixes torna o lago mais belo, mais vivo e mais misterioso,
De certa maneira, não como o velho deseja a saúde, mas como o jovem
Se esbalda com ela, porque não basta a flor preciosa, porque quero regá-la
Ao sol, molhar a sua raiz e imaginar que meu cuidado a está deixando bela, quero
O banho que refresque e não o banho que me limpe da sujeira acumulada,
Porque a praia é bonita, mas uma criança brincando com ondas dá à praia
Um sentido mais lúdico, e não a porta de mistério insondável, a quero porque
Ela me transforma na coisa mais leve, confia-me sua intimidade mais delicada
E pronuncia meu nome no diminutivo e tem o riso não da coisa engraçada, mas
Da própria graça que ela tem nos lábios, não a quero pelo seu corpo, quero
porque seu corpo se torna sagrado quando a vejo, quando a toco e quando desejo,