inescapável
Seria tristeza esse âmago de angústia,
De onde as palavras emanam em busca
De parceiras, seriam amáveis essas mãos
Aderidas a outra palavra que adere a outra
Que então se adere às coisas do mundo e concede a elas
Um fragmento de céu imaginado que cobre o abismo de sangue
Onde ainda as ruas da infância permanecem sem asfalto, e as casas
Alinhadas com janelas que se abrem para a rua onde uma senhora na janela
Observa uma vida que parece não lhe pertencer, mas nela pulsa
Mesmo quando crê que dessa vida já se retirou ou
Esgotou-a por meio das partidas e chegadas, no pescoço
De leve esforço que se fecha para aquelas perdas
Que tornaram seu piso ainda mais translúcido, enquanto outros
Desconhecem que sob as tábuas de marfim, sob essas
Pedras, ferve um gozo fértil e inverossímil que acaricia
Os pensamentos e faz da memória o lugar onde a vida
Vive e é reavivada, sugando dela, do seu sulco mais angustiante
As horas que o céu se apresenta como sobre a mesa e seus filhos
Ainda pequenos olham para ela como se houvesse, apenas, esta
Terra que gira, com sua luz que transforma a noite no homem misterioso
Que cuida das pedras e entoa na cabeça a antiga melodia
Das altas esferas. Mas tudo isso é letra, ou seus anexos,
Na rua, um homem deitado não se recorda mais de si mesmo.