não como as bromélias

No piso mais baixo, onde o peso

Grita seu lamento, o assoalho está feito, aquele

Que o suporta; nada entra, nada sai. Nas profundezas,

O abismo sem nome, o frenesi interrompido,

A festa encurralada e as lembranças feitas

Como jaula, como cadeia fechada. O

Perfume não exala, imensa parede de imagens,

Aquilo que guarda, o retrato que já não serve. A atmosfera

Que seria efêmera, o penteado malfeito, a palavra

Embalada com a cova da raiva.

Lá em cima, os terrenos já conhecidos, os cataclismos já

catalogados, os monstros que já escaparam.

E essa vontade de amar, não tão secreta,

Mas inabalável, o bar da adolescência, o beijo conquistado,

Os carinhos roubados, o sexo mais prolixo e aquele contido

Onde o amor era ciente de que pouco tempero já temperava

O prato. O escuro inesperado e o esperado que já foi lembrado,

Tragado, defumado pelo fogo inebriante da realidade.

As portas do espírito estão abertas, outras arrombadas.

Lembra da Gabriela? Amar Ali foi um ato desgraçado,

mas amei leve e gratinado. Mas alguns amores no tempo

Se faz assombrado, acabou, nunca acaba. O amor antigo

Cresce no abismo, como planta que sobe pelas paredes,

nas entranhas das pedras. Amor antigo nos parece o dono

do pedaço, apego desgraçado e todo tipo

De alambrado. Mesmo assim, deles extraímos versos

que são belos no Seu canto, mas uma tragédia que nos suga,

nos lembram, mas não são como as bromélias.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 19/01/2024
Código do texto: T7980127
Classificação de conteúdo: seguro