tórrida vida

A tarde se entranha no dia a certa

hora, quando o estômago emerge de sua hibernação.

O dia se recolhe amontoado, pois amanhã ainda

existe, seja na memória seja pelo cansaço que

a tarde oferece. Os olhos das moças, abertos

e oblíquos em seus desejos que a idade promana.

O céu não cai sobre a cidade nessa

tarde, mas ela recebe teu claro clamor

de um cisma tórrido que se pronuncia, assim

como o céu pela manhã não caiu, mas se mostrou

quando a noite se transferiu para o lado onde

a sombra estava clara e as crianças não temiam

o sabor impróprio que o escuro traz no bojo

do seu corpo. Então, como formigueiro, os homens

em uma ordem que é a ordem dos homens, com

seus carros, seus cálculos, suas igrejas, suas feiras,

suas mulheres, suas famílias feitas conforme a receita

e aquelas que vivem nas ribanceiras. Saboreia cada

um a seu modo a vida como ela se dá, bela, escandalosa,

preguiçosa, jocosa, fina ou insalubre, tangente

ou em mergulho. A vida, com seus diversos modos,

se junta numa só, com suas árvores altas, espinhos,

fresca, seca, molhada, de flores ou inertes, insossa,

ou assombrosa, com seu cosmo, como seu tudo com

esse tudo que falei, que se estende para dentro da noite,

para dentro de outro manhã, que guarda o tempo e espera

por outro tempo, e que a gente nela surfamos ou afogamos.

Que está fora e está dentro, aqui embaixo e no firmamento.