e como eu amava
Os passos são verbo nas pernas,
A língua do espaço murmura,
No retorcido caminho do crescer,
O rastro se tece onde a flor se aninha.
A terra, parto de sua própria beleza,
Os filhos, riso que desliza sob o céu,
O caminho breve, contudo encharcado
Com vinho, café, ternura das mãos.
A memória não retém seus olhos,
Mas o olhar, lago fotogênico,
Onde o passado, como criança brincando,
Navega, e eu amava, sabendo dela viva.
Seu sorriso, abertura onde meu labirinto
Tremia e vacilava, cordas trêmulas,
Na onda insegura, desinência improvável,
A poesia, única testemunha.
Tudo incriado, turvando o ventre,
Molhando a lembrança, fora, do lado,
Na ausência, pretérito fez presente,
Eu amava o não-criado, a imaginação.
Coração, treva viscosa, não delata,
Amores guardados, como a gratidão,
Saudades, tentativas de refazer trilhas,
Colher trevos na margem do rio da vida.