meu temor
Meu receio é que ela se dê conta da queda,
Da vastidão ínfima de um grão de arroz,
Que a vida lhe revele as artérias largas de uma folha,
A velocidade desconcertante de uma formiga.
Que uma mancha na pedra seja para ela revelação,
Que o céu estenda todas as suas cores para ela,
Que a mais oculta dinâmica de uma música
Se torne um adorno para seus ouvidos.
Meu temor é que ela compreenda que a vida
morre para que a vida floresça, que uma cobra
engolindo-se seja mais comum que uma palmeira
na praia, que perceba que o amor, que flutua no coração a qualquer
momento, pode ser retirado dela, que a esperança
que mantém a serenidade seja apenas abstração na memória.
Que ela perceba que todo o corpo está tenso,
que o que sentimos não equaciona as contas quando
pensamos na vastidão da vida. Meu receio é
que sinta que a juventude está se esvaindo,
que seu lado infantil está enferrujando,
que 30 anos passam mais rápido que uma semana,
que o sentimento é apenas energia e o sublime
nos escapa a cada segundo.
Temor, claro, de que ela saiba que é mortal,
que a perda é o caminho para o ganho, que ela desconsidere os caminhos
que a juventude costuma negligenciar, que fique
irritada comigo por não lhe dizer que o céu
é um vasto oceano, que o micro seja tão vasto
quanto o espaço mais espaçoso, que a vida lhe dê
um gole maior que sua garganta possa suportar,
que ela não esteja ciente do sol mais brilhante
e que não vislumbre a flor mais esperada.
Meu medo é que ela viva e que sua consciência lhe revele uma
verdade inesperada. Também receio esse receio que me comove
quando, após uma forte chuva, compreendo
que tudo é passageiro, assim como as tempestades
mais calamitosas. Que o inverno tenha o mesmo direito
que o verão, que a ausência de folhas seja a condição
para que elas possam existir novamente.
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Meu temor é que ela perceba a queda,
a imensidão do grão de arroz, que a vida
lhe revele a vastidão das artérias de uma folha,
a desconcertante velocidade que uma formiga pode alcançar.
Que uma mancha na pedra lhe seja revelada,
que o céu desdobre todas as suas cores para ela,
que a mais oculta dinâmica de uma música
se torne adorno para seus ouvidos.
Meu temor é que ela saiba que a vida morre
para que a vida possa florescer, que uma cobra
engolindo-se seja mais comum que uma palmeira
na praia, que perceba que o amor, que paira no coração a qualquer
momento, pode ser retirado dela, que a esperança
que mantém serenidade seja apenas abstração na memória,
que ela perceba que todo o corpo está tenso,
que o que sentimos não fecha as contas quando
pensamos na vastidão da vida. Meu temor é
que sinta que a juventude está escapando,
que seu lado infantil está enferrujando,
que 30 anos passem mais rápido que uma semana,
que o sentimento seja apenas energia e o sublime
nos escape a cada segundo. Temor, claro,
de que ela saiba que é mortal, que a perda
é o caminho para o ganho, que ela desconsidere os caminhos
que a juventude costuma negligenciar, que ela
fique irritada comigo por não lhe dizer que o céu
é um vasto oceano, que o micro seja tão vasto
quanto o espaço mais espaçoso, que a vida lhe dê
um gole maior que sua garganta possa suportar,
que ela não esteja ciente do sol mais brilhante
e que não vislumbre a flor mais esperada.
Meu medo é que ela viva e que sua consciência lhe revele uma
verdade inesperada. Também temo esse receio que me comove
quando, após uma forte chuva, compreendo
que tudo é passageiro, assim como as tempestades
mais calamitosas. Que o inverno tenha o mesmo direito
que o verão, que a ausência de folhas seja a condição
para que elas possam existir novamente.