LARANJA

Essa tarde, enquanto voltava do trabalho,

A rodovia me observava calmamente

Os carros passavam em câmera lenta

A estrada parecia serena e infinita

Nada podia me machucar.

Eu sentia dirigir um ultraleve

Que flutuava pela pista, pela cidade

Por onde entrei, anestesiado.

A retirada do sol esmaltava o céu de laranja.

Abri os vidros para receber o vento no rosto

Meus cabelos eram harpeados pela eurritmia do espaço

O homem que puxava dois belos cavalos,

O feirante de morangos na esquina

A mulher com um bichano no colo

Meu coração fora adocicado pelo aninho do poente.

Só havia paz, um solo de guitarra progressiva acompanhada

De voz rouquenha, cuja letra derramava luto, medo e solidão,

Mas seu espírito remansoso me e(n)levou pelas árvores, casas e prédios.

Esvaziando-me de todo o peso do dia,

Coloquei o panorama do percurso numa garrafa de areia colorida

Dentro da qual, ao chegar em casa, me deitaria.

Nesse laranja eu repousei.

Elmer Giuliano
Enviado por Elmer Giuliano em 12/01/2024
Reeditado em 12/01/2024
Código do texto: T7974966
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