LARANJA
Essa tarde, enquanto voltava do trabalho,
A rodovia me observava calmamente
Os carros passavam em câmera lenta
A estrada parecia serena e infinita
Nada podia me machucar.
Eu sentia dirigir um ultraleve
Que flutuava pela pista, pela cidade
Por onde entrei, anestesiado.
A retirada do sol esmaltava o céu de laranja.
Abri os vidros para receber o vento no rosto
Meus cabelos eram harpeados pela eurritmia do espaço
O homem que puxava dois belos cavalos,
O feirante de morangos na esquina
A mulher com um bichano no colo
Meu coração fora adocicado pelo aninho do poente.
Só havia paz, um solo de guitarra progressiva acompanhada
De voz rouquenha, cuja letra derramava luto, medo e solidão,
Mas seu espírito remansoso me e(n)levou pelas árvores, casas e prédios.
Esvaziando-me de todo o peso do dia,
Coloquei o panorama do percurso numa garrafa de areia colorida
Dentro da qual, ao chegar em casa, me deitaria.
Nesse laranja eu repousei.