FINITUDE E TEMPO VIVIDO

Resta hoje, quase nada,

do mundo no qual cresci.

Mas, teimosamente, ainda percebo dele,

alguns vestígios.

Certas desbotadas e inúteis lembranças,

que sem pudor me assombram

tentando acordar alguma esperança.

Mesmo que os lugares tenham mudado,

que as pessoas estejam mortas

ou não me reconheçam,

e meus atos não remetam ao passado

de nenhum presente,

tais lembranças reivindicam

certa espectativa de eternidade.

Mas resta hoje,

quase nada de mim,

das coisas que vivi,

e, saber o ontem como memória,

não salvará do nada

minha inútil existência,

minhas debilitadas lembranças

de um mundo que já não existe

mas ainda me habita

e persiste como fantasma.