Poema de areia e sal
Construí castelo de areia
Em abismos insondáveis
Fui muito além das muralhas
Onde o sol é sal
e o sul é só
um ponto na rosa dos ventos
Em meu fantástico mundo
de guache e nanquim
Há quem ache
Que o papel
Não precisa
de mim
Sou telúrico de nascimento
e pertença
Fruto daquela crença
Seres eternos
e ternos
nós
O tempo já bate a porta
dos que renovam seus votos
A aurora dos dias
É uma jovem dama
no jogo preto e branco
da vida
Cabe a nós o fantástico
e fantasioso universo
Sermos como a frincha
das janelas do meu castelo
Um palácio de areia e sal
oceânico feito para durar
E desaguar quando quero
ou não quero
talvez quero-quero
Este átomo indizível
de asas
No contra mar
Seremos o sal
onde tudo é sol
Serpenteando as narinas
dos trópicos
Abaixo e acima da linha do equador
Singrando hemisférios
Minha psique as vezes imita
dita e fita, segue a risca
O mapa mental das embarcações naufragadas
Quando muito,
sôfrega alcança o recife de coral,
quase ilha ou atol
Em terra firme é quase primavera
E nos campos,
já ecoa o cântico do bem-te-vi
Se a fuligem me impedir
vou florir
Se a floração não vingar
vou sonhar
Sou castelo de areia e sal
De sol a mar.