novas bocas de língua
Desvirginada a atmosfera, o corpo mergulha
Nas águas de uma vida pregressa,
Espessa camada de argila e azeite, que
Escorre lamacenta entre os dedos da noite,
Ama-me nessas águas profundas, desce até
Mim, conhece minha pele, que te revelo
Como flutuar sob a pedra, como ser
Andarilho numa terra de cascalho e púrpura
Ardência os olhos extremos, espero por ti, sei que
Teu corpo titubeia nas noites de luz, que
Tua vontade não se desintegra diante da lúbrica
Cidade subterrânea, pois daqui percebo tuas
Veias, como tuas artérias dialogam com a
Matéria, como manobras as palavras para perto
Da tua folha fértil de seda e mel, sei que
Teus ouvidos me ouvem, e tua pele fala a língua
Da espera, pois soube assentar-me na pedra mais
Elevada e contemplar o brilho de tua presença no
balaústre que contorna a tua varanda,
Soube que onde tu floresceste outras árvores
Elaboram novas bocas com línguas incansáveis
E ávidas, abre-te para a estrada que se desvela
A teus olhos, que desnuda a textura de tua carne
E que confere ao teu coração o compasso do ritmo
Que ele proclama, pois meus braços reconhecem teu
Contorno, pois ainda guardo na sombra do pensamento
O gemido que emergiu do êxtase de quando soube que era a vida