lá e cá, acima abaixo, aqui, acolá

A pedra carrega um fardo não seu,

mas da fusão com a terra,

ou da mesa, ou da cadeira, do mais

que sustenta a pedra, paixão desleal, inadequada,

telúrica, lasciva que em cada encontro

transforma em estilo, em rubrica, o laço, solto ou apertado,

cego, ou fácil, extremo, propício, impuro, duro,

o nó mal-amado, ou como a tarde que, ao cair do dia,

derrama sobre os telhados a mensagem molhada da chuva recente:

a terra é amada pelo céu, que, quando seco, acolhe as lágrimas

de um enigma mesmo quando desvendado.

Não desfaz a dúvida, nem

a hesitação, pois esse mundo não é deste mundo,

é externo a este, distante, furioso e amoroso, sereno,

ou abismo viscoso, do alto, retrato dinâmico, ora

amigo, ora estranho, que mesmo após 49 anos

anos, não é conhecido, nem desconhecido, um vulto,

um pulso, um vento, um assombro, um assunto. Um

vivo ou um morto, tanto faz, é do mesmo tormento,

e tudo é letra e tudo é pedra, que pesa e as letras

deixam mais leve, então escrevemos essa vida que é espaçosa,

infinita, embaraçosa, um milagre que dança, que cansa,

que descansa, que morre mas enfrenta, que adormece, mas

morde, que vende, mas compra, que dá, mas desconta,

que mente, mas é de confiança, que mata, mas alivia,

que ama, que desce, mas sobre, que é homem é criança,

que mesmo dela, escapando, sempre nos alcança, que odeio

mas que me ama, que é horror, mas não mata a esperança.

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A pedra carrega um fardo não seu,

mas da fusão com a terra,

ou da mesa, ou da cadeira, do mais

que sustenta a pedra, paixão desleal, inadequada,

telúrica, lasciva que em cada encontro

transmuta em estilo, em rubrica, o laço, solto ou apertado,

cego, ou fácil, extremo, propício, impuro, duro,

o nó mal-amado, ou como a tarde que, ao cair do dia,

despeja nos telhados a mensagem molhada da chuva recente:

a terra é amada pelo céu, que, quando seco, acolhe as lágrimas

de um enigma mesmo quando desvendado.

Não desfaz a dúvida, nem

a hesitação, pois esse mundo não é deste mundo,

é externo a este, distante, furioso e amoroso, sereno,

ou abismo viscoso, do alto, retrato dinâmico, ora

amigo, ora estranho, que mesmo após 49 anos

anos, não é conhecido, nem desconhecido, um vulto,

um pulso, um vento, um assombro, um assunto. Um

vivo ou um morto, tanto faz, é do mesmo tormento,

e tudo é letra e tudo é pedra, que pesa e as letras

deixam mais leve, então escrevemos essa vida que é espaçosa,

infinita, embaraçosa, um milagre que dança, que cansa,

que descansa, que morre mas enfrenta, que adormece, mas

morde, que vende, mas compra, que dá, mas desconta,

que mente, mas é de confiança, que mata, mas alivia,

que ama, que desce, mas sobre, que é homem é criança,

que mesmo dela, escapando, sempre nos alcança, que odeio

mas que me ama, que é horror, mas não mata a esperança.