Na livraria que me resume vivente
As estantes são confusas como multidões...
Há poemas abandonados pelos cantos
Filosofias adiadas e, no entanto,
Há uma ordem que perpassa a solidão.
Eu sou meu próprio mestre de cerimônia
Na introspecção herdada do espanto
De ter pensado poder colorir o preto e branco
Dos quadrinhos inesquecíveis da infância.
Mas não ficou em mim a sombra de heróis
Abreviados em sua existência exaltada...
A maturidade cobra tributos de ganância
Enquanto seca em nós o rio das boas crenças.
Vou tentando arrumar prateleiras
Enquanto sei que a finitude me espreita...
Não vou dançar a valsa da angústia
Nem deixar que a tristeza seja feita...
Vou renovar-me a cada manhã
Pondo em movimento um sonho vago
Folheando o livro que encontrar então...
Sem deixar que o espírito pasmo
Roube de mim o sorriso vão...
Pois meu sorriso ao circunspecto infinito
É o novo livro que guardo nas mãos.
Crédito da imagem: https://www.metropoles.com/negocios/mercado-editorial-crise-de-gigantes-abre-espaco-a-livrarias-de-nicho