Eu não sou deste mundo
Por isso que eu vivo na sua margem
Na borda da sua confusão, da sua crueldade
Me escondendo das suas sombras
Na luz da noite
Na claridade do dia
Em busca de poucas amizades
Ou alianças
De verdades e distâncias
De doces e travessuras sadias
Mesmo as proibidas
Por isso que eu vivo de armadura
De cara dura
Por dentro, mais atrevida
Não que eu tenha medo da vida
Disso, eu não tenho mesmo
Se eu vivo intensamente
Mesmo se passo semanas em meu cantinho manso
Aparente
Porque eu tenho medo da espécie da qual descendo
De suas doenças do corpo e do espírito
Tenho medo de sua loucura tão bruta, tão profunda
Tenho medo de cair dentro do seu hospício e nunca conseguir voltar
Por isso que eu vivo dentro da minha bolha
Transparente
Em que apenas um pode entrar
Que vê tudo o que os outros não vêem
Ou não querem ver
Nem eu, mas preciso
Se eu sou forasteiro
Eu tenho que saber onde estou pisando
Com quem estou lidando
E como eu posso continuar levitando
Cada vez mais alto deste mundo que não é meu
Que não me pertence
Que não sou eu