O PÓ DOS MEDOS

Minha alma tem vãos guardados em algum canto,

como precipício em lava incandescente,

feito suor já empedrado e calado.

Nesses vãos sem dono, nem crias,

guardo encantos a granel,

escondo segredos em monstros gigantes,

guardo respingos que não mostro pra ninguém.

O tempo vai se esvaindo, ficando calvo e sábio,

levando no seu cangote cabrestos tantos,

cicatrizando passos fora do prumo,

untando de luz os vãos meninos que sobraram.

Então, naqueles cantos ásperos e avessos,

recarrego meus fluídos de encantamento,

sacudo o pó dos medos, dos porões rasgados.

respingo o que deve rugir, resplandecer, até sorrir.

Daí, por fim, sacudido e vingado,

faço minhas as trouxas do mundo,

ancoro as rédeas mancas da paixão,

velejo em delícias que não ecoava,

disperso nódulos avessos, galopes estranhos,

e sigo no rastro das pegadas que cerzi,

até tudo se cansar de mim de vez.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 02/01/2024
Código do texto: T7967348
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