Belo segredo
Secretamente plantei uma muda em meu jardim longe das demais.
Esta cresceu em graça e majestade
Como algo que nunca antes vi.
Meus olhos contemplaram-na
Pela primeira vez em uma manhã ensolarada e calma,
Raios de sol a iluminavam
E eu a vi como um deus solar,
Eu sabia que a manteria escondida de
alguma forma dos insetos, das borboletas, dos próprios feixes de luz.
Senti a obsessão em cuidá-la
E prometi a mim mesma que nunca
Num arranjo a colocaria enfeitar.
Mas se passou algum tempo
E a flor começou-se a mudar.
Suas pétalas deixaram o aspecto delicado, tornando-se ásperas
Sua cor antes tão azul-clara
Agora em negras nuances se alastrava.
Eu sofri, e como pudera!
Uma aura tão diabólica rondava minha
flor, aquela que secretamente de todos
plantei, pois sabia que ela iria ser
Minha perdição.
Me recompus e andei ao seu redor
Com choro amargo, senti que sua fragrância se extinguira
E que a morte a aguardava.
Eu de tudo fiz à flor
A reguei com minhas lágrimas
Adubei com meu espírito
Mas ela partiu sangrando e rindo
Como se gostasse de sofrer
E me ver assim.
A impotência em tentar-se ser a jardineira perfeita
Cuidando de algo que minha vida
Dependesse...
Mas por um instante percebi que esta flor era algo personificado que havia
Em mim
E o prazer que tinha eu em olhá-la
Era apenas meu.
Senhora de si ela se foi
A vida tem que arrancar à força
O que se alastra e se torna obsessivo culto de adoração?
Que deus eu tinha em meu jardim,
E agora apenas um cadáver
Sem vida
Sem beleza
Morta e envolta em tristeza
Que é somente minha.
Então despertei,
Fora um sonho enigmático demais para
Se compreender?
Sentada em meu jardim na manhã de
Janeiro
Me pergunto se essa flor que morrera
Não fora a representação de todos os
Sentimentos que tentei guardar e adorar, e que afluíram violentos em vingança
Morrendo todos ante mim...