desvelo
No verde do campo, o sol verteu
Amarelo-laranja e longas atmosferas almofadas, homens
Voltando do labor, crianças com papagaios, janelas
Com olhos espreitando um tempo mítico,
E meus olhos notam a ternura das folhas ao vento, o amarelo
Das folhas que já se lamuriam, ainda assim se atiram em direção
Ao seu destino, amamos os ventres das coisas, o ventre do
Nada, onde palavras nascem apenas das vísceras
De uma vida que precisa dizer, expressar-se e tornar-se
Conhecida para aqueles que vagueiam sem rumo, onde as tormentas
São filhas do silêncio, assim como a música e o desejo de
Se contorcer diante do belo, que, por tão belo, a única resposta
Possível e verdadeira é descer pelo penhasco e sumir
Como uma gota que se perde no oceano, como a inocência que se cala
Diante do mundo, restando apenas a cínica vontade de sobreviver mesmo
Sabendo que o sagrado se realizou na pedra ou nas frases prontas
Do homem que já não ouve o vento ou não conhece o rio que ultrapassa
Todos os rios, rio soberano, onde nossos barcos correm desatinados,
À espera de um lago, que seja mais regato que um cosmo desolado,
Apartados da florada das flores, do belo da beleza, contemplamos
Com saudade uma vida que já esteve em nossa pele.