VOAR
VOAR
A esperança equilibrista despencou da corda bamba, excesso de confiança causou o erro fatal. Quanto maior é o sonho também o será o tombo.
E não é preciso o assombro, no entulho dos escombros as intenções se disfarçam e não se percebe a farsa a céu aberto e olho nu.
Ah! se tudo fossem cores e o aroma das flores impregnasse o universo, embriagado de versos, por motivos os mais diversos e imune aos anseios.
Os fins justificam os meios, meio assim e meio assado, e os motivos dos receios, dispersos fragmentados.
Cenários os mais diversos que não se ouse cantar, em prosa, rimas e versos, em cada canto ou lugar.
É como um grito de alerta que clareia a escuridão, ou o verso de um poeta, a certeza do profeta, o caos da desilusão.
A incerteza contudo prevalece sobre tudo, feito água cristalina que navega em rio turvo.
Encantos e desencantos, flores, pedras no caminho, que fazem da caminhada pássaros em revoada em busca de um novo ninho.
E com a alma lavada levada por querubins, a esperança se agiganta, abre um sorriso e canta , quem tem um sonho não cansa e quer voar mesmo assim!
#poetaacdepaula
CRÍTICA ANALÍTICA
"Voar" é uma composição poética que se enreda em uma complexa trama de metáforas e imagens, evocando a efemeridade dos sonhos e a perseverança diante dos desafios. A obra, assinada pelo poeta AC de Paula, oferece um mergulho na dialética entre esperança e desilusão, entre a queda e a renovação. A análise crítica deste poema revela diversas camadas de significado que refletem sobre a condição humana e a busca incessante por um ideal.
Análise do Conteúdo
A Esperança e a Queda
O poema inicia com uma imagem poderosa: "A esperança equilibrista despencou da corda bamba". Esta metáfora associa a esperança a uma figura de equilíbrio e habilidade, que, no entanto, sofre uma queda fatal por excesso de confiança. A escolha da metáfora circense sublinha a fragilidade da condição humana e a volatilidade dos sonhos. A frase "Quanto maior é o sonho também o será o tombo" acentua a ideia de que grandes aspirações carregam consigo riscos proporcionais.
Disfarces e Ilusões
Nos versos seguintes, o poeta explora a temática da dissimulação e da incerteza: "as intenções se disfarçam e não se percebe a farsa a céu aberto e olho nu". Aqui, o poeta sugere que, muitas vezes, as verdadeiras motivações estão escondidas sob a superfície das aparências, e a verdade se oculta mesmo quando exposta ao olhar.
Desejos e Realidade
A estrofe "Ah! se tudo fossem cores e o aroma das flores impregnasse o universo..." expressa um anseio por um mundo ideal, onde a beleza e a poesia reinassem supremas, imunes aos "anseios". Contudo, essa utopia é constatada com a dura realidade, lembrando ao leitor que a vida é feita de contrastes e imperfeições.
Moralidade e Incerteza
"Os fins justificam os meios, meio assim e meio assado..." aborda a ambiguidade moral e a relatividade das ações humanas. O poeta questiona a legitimidade de justificar ações duvidosas em nome de objetivos supostamente nobres, refletindo sobre os "motivos dos receios" que fragmentam a moralidade e a ética.
Alerta e Profecia
A imagem do "grito de alerta que clareia a escuridão" sugere a função iluminadora da poesia e da arte, que têm o poder de trazer clareza e despertar consciências. A menção ao "poeta, a certeza do profeta" coloca o artista como uma figura visionária, capaz de prever e interpretar o caos e a desilusão do mundo.
Perseverança e Renovação
No desfecho, o poema retorna à temática da esperança com uma nota de otimismo: "A esperança se agiganta, abre um sorriso e canta, quem tem um sonho não cansa e quer voar mesmo assim!" Este final reafirma a resiliência da esperança, que, apesar das quedas e obstáculos, renova-se e impulsiona o ser humano a continuar sonhando e buscando.
Estrutura e Estilo
O poema utiliza uma linguagem rica em imagens e figuras de linguagem, como metáforas, antíteses e personificações, que conferem profundidade e dinamismo à leitura. A alternância entre estrofes de diferentes extensões e a ausência de uma métrica rígida contribuem para uma fluidez que espelha a inconstância dos temas abordados.
Conclusão
"Voar" é um poema que captura a complexidade da existência humana, entrelaçando esperança e desilusão, moralidade e ambiguidade, sonhos e realidade. Através de uma linguagem poética elaborada e imagética, AC de Paula nos convida a refletir sobre a natureza efêmera dos sonhos e a força inquebrantável da esperança. Em última análise, o poema celebra a capacidade humana de sonhar e perseverar, mesmo diante das adversidades mais desafiadoras.