SUORES ROUBADOS
No vai e vem das coisas,
sou ovelha desgarrada, desgravada, desmamada.
Fagulha camuflada, atrevida e vil.
Faço valer meus truques, quebrantos e gingados
numa estrepolia alucinada e febril.
Nestas catapultas rameiras, surradas asneiras,
extraio sêmens anônimos do tudo,
resvalo rasgos d'alma sem pudor, sem rodeios,
até o tempo se fartar de tudo, até de mim.
Neste vai e vem acabrunhado, soturno,
esqueço as partituras do respirar, do amar,
esqueço das folias de moleque, dos pacatos arroubos de festim,
sou parido de novo só pra esquecer do meu atrás.
Então vão os versos, os entornos, as querelas,
vão os gostos, os galopes domados, a flor, quem sabe,
vão os trocos, os sustos, a fé, os suores roubados.
Então, meu bem, aqui resto eu, sacudido inteiro,
esperando seus achados, seus apetrechos da guerra,
até nos misturamos a ponto de não sermos mais dois,
não sermos mais nada e assim viramos um só.