A lua e o caçador
Via o semblante de uma linda jovem
Era refletido na água e no céu azul
Seus lábios carnudos eram terra de cores
E em seu peito guardava diversos amores.
Era apaixonada por flores
Suas preferidas, rosa e lilás
Trazia consigo um sorriso brilhante
Para seus pais, era como um diamante.
Tão natural e de valor inestimável
Era uma doce menina, uma linda mulher
Estudiosa e criteriosa, sabia o que queria
Mas perdeu-se onde não deveria.
Seguiu estradas turbulentas
Sobrou em meio às ceias fartas
Armou-se de palavras cruas
E foi apedrejada nas ruas.
Era como uma noite clara
Num dia escuro
Era ela que vinha pra ficar
Bem vestida para assombrar.
No meio aos ventos uivantes
Descendo a colina, bem cativante
Atraindo pessoas à beira da estrada
Rapidamente, levavam uma facada.
E o corpo de sua vítima perecia
Seu coração congelado se expandia
Com sangue nos olhos ela matava
Com suas próprias mãos se vingava.
Daqueles que a fizeram sofrer
Pelos tempos solidamente perdidos
De não poder abraçar seus pais
Do amor que acreditara não ter mais.
Em carne e osso, mas sem vida
Ela não saciava sua vontade
Porque estar viva a fazia sofrer
E suas lembranças faziam sua mente doer.
Ela sabia que precisava de uma dor maior
Para amenizar o seu eterno sofrimento
Mesmo em seus dias sóbrios e fúteis
Para ela, seus atos eram inúteis.
Seus lábios já não eram tão carnudos
Seus vestidos não eram mais coloridos
Seu sorriso não mais brilhava
E toda noite, a lua, ela admirava.
Era um encanto pelo luar
Que lhe fazia lembrar
Que em algum lugar
Alguém a esperava encontrar.
Era a sua morte
E o seu renascimento
Era sua dor
E sua liberdade.
Ela acordou amarrada
Suplicou por misericórdia
Mas seu caçador sabia
Que por fim ao seu sofrimento deveria.
E olha que ironia
Ela olhou em seus últimos momentos
O rosto dele com muita alegria
E prestes a perder sua cabeça, ela sorria.
E aquele sorriso era memorável
O caçador a reconheceu na hora
Era aquela moça linda que um dia
Já fora apaixonado e com quem casaria.
Mas sabia de seu propósito
Que chegou tarde demais
E que não há como reverter aquela dor
Porque mesmo se fosse amor...
Ele nunca deu sinais,
Ela nunca vai esquecer
Do tempo que passou
O sentimento esfriou.
Nem que ele a quisesse ainda
Mas sabia que se a soltasse
Ela o mataria e traria o caos
E ele não era um dos caras maus.
Ela precisava matar para viver
E ele nunca poderia ser para ela
Mais do que uma vítima a perecer
Então seu rosto à luz fez aparecer.
Moço bonito dos olhos castanhos
Para ela mesmo de longe não era um estranho
Ela sabia bem o que estava acontecendo
E ela disse: “Se não me matar vou continuar comendo...”.
...“Comendo o coração dos que amam,
Sugando suas vidas e dividindo minhas dores,
Minha alma precisa ser libertada,
Quero ir pra casa então crave sua espada...
...No meu peito cansado,
Quero acabar com a angústia que me açoita,
Quero poder viver de novo e ter um sonho,
Quero não ter de ferir mais ninguém”.
E assim, com lágrimas nos olhos
E um último suspiro, ele disse:
“Me perdoa, por não ter feito algo antes”
E cravou sua espada no peito dela.
Ela não mais sorria, nem mais chorava
Ela não sofria, nem mais sangrava
Seu corpo tal como seus pais diziam
Se tornava um pequeno diamante.
O diamante guardava sua alma
E o resto do seu corpo se desintegrou
Em borboletas coloridas e lindas
Que em várias direções, voavam.
O caçador levou e guardou consigo
O diamante, corpo de sua amada
Toda noite, ela despertava e retornava
De vestido branco e cabelos soltos.
Ela era a lua, tomava forma humana
E somente o caçador a via
Toda vez que conversava com o diamante
Era sua eterna companheira e amante.