Língua Portuguesa
Já te dei as minhas asas
E também as minhas tetas
Por acaso te esqueces
Que já nos encontramos antes
Quando éramos infantes
No mundo encantado das letras?
Já nos encontramos - dizem as letras.
No jardim da infância e primário
Tu eras ainda um menino
Que com grande fascínio
Brincavas de encontra-me
Nas páginas do dicionário
Não me deixes, meu poeta
Pois agora, já maduro
Sejas tu o meu profeta
Meu poeta visionário
A libertar-me do escuro
Das páginas do dicionário.
Quando o saber ficar pronto
Nada no mundo o consome
Porque a maior riqueza
Não pode ter outro nome
Que fome sedenta de letras
E letras sedentas de fome
Dá-me asas pra voar
Tal como a passarada
Que em bando e revoada
Alça seu vôo na aurora
Sejas tu pra mim agora
Sejam tuas as minhas asas
Tu serás as minhas asas
E eu serei o teu ninho
Eu te dou a bruta mina
E tu me dás polida estela
Ó Língua Portuguesa
Que entre o cascalho vela