Monólogo da Morte I

Não tenho cor ou palidez

Eu tenho o fio da navalha

Não tenho amigos ou freguês

E a minha intuição não falha

Não passam a vida me esperando

Sou além do calor da batalha

É da Morte de quem estamos falando

Não tenho fim ou sensatez

Eu tenho a praga desses anos

Não tenho pressa ou timidez

Eu falo a qualquer soberano

Eu queria de vez em quando

Ser mais calmo ou mais humano

Mas é da Morte que estamos falando

Não tenho dúvida ou talvez

Eu tenho uma única missão

Não tenho forma ou solidez

Eu sou mais que a imaginação

E se me ouvirem assoviando

De mim já não mais correrão

É da Morte de quem estamos falando

Não tenho contrato ou rigidez

Eu tenho a sua história completa

Não tenho drama ou acidez

Eu sou a chegada mais concreta

E poderemos ir conversando

Fazer a passagem discreta

Pois é da Morte que estamos falando

Não tenho tempo ou xadrez

Eu tenho a poesia do mortal

Não tenho graça ou mudez

Eu dirijo o roteiro universal

Guiando os passos cambaleando

Regendo o ato mais natural

É da Morte de quem estamos falando

Não tenho medo ou estupidez

Eu tenho um reino além do dia

Não tenho cegueira ou surdez

Eu sei que assusto a fantasia

Eu queria apenas um gesto brando

Que me demonstrasse simpatia

Mas é da Morte que estamos falando

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 23/12/2023
Código do texto: T7960414
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