PRAGAS NO QUERER-BEM
Minha cara-metade por vezes tem sangue trêmulo,
alma tosca, olhar esquisito.
Seus passos por vezes titubeiam, a voz encarde,
seu gosto fica escasso, opaco, áspero.
com guizos desaprumando todos meus.
Minha cara-metade por vezes se faz oca, maltrapilha,
revira meu estômago com seu suor,
descama o ar e todo viver.
Minha cara-metade por vezes coalha, arrepia,
esvoaça meus planos, voos e penduricalhos,
joga pragas infinitas no querer-bem.
Fica bizarra a ponto de quase fazer Deus ir embora de vez.
Mas, mesmo assim, justamente por ser assim,
com tantas rebarbas, fuligens e poréns,
com tantos engasgos, desafagos e desamores,
só nela que ancoro meus dias,
só com ela acaricio cada pétala de dor,
só com ela renovo minhas andanças atônitas, bizarras.
Mas, mesmo assim, justamente por ser assim,
só com ela reconduzo cada passo,
só nela volto a respirar, a intuir, a reluzir,
só com ela vou até não poder ir mais.