DAS MINHAS TANTAS SAUDADES

Tenho saudade de tantos chãos pisados, tantos desejos untados...

Saudade das vozes que azucrinavam o meu olhar, atiçando os quatro cantos.

Saudade da chuva enganando o querer-bem, do eco rasgando o medo.

Tenho saudade da dor fingindo sorrir, do medo cuspindo os reféns da fé,

saudade do indigesto rufar da insensatez, da nudez abrupta da pujança,

saudade do cego poente da verdade, das chamas fugazes do não saber.

Tenho saudade de quando flertava com Deus, quando desfolhava o sangue das dúvidas,

saudade das querelas endiabradas, dos quinhões mesquinhos, das tarantelas falidas.

Tenho saudade do torpor roubado de quem fosse, das poças melecadas pela sedução,

saudade do trotar bêbado da paixão, das miçangas ardentes da rima,

saudade dos desafinos das certezas, das molecagens escrachadas do feitor.

Tenho saudade das vértebras festeiras dos capengas, das derrapadas puídas do fracasso,

saudade dos gargalos solenes do desdém, das fraldas enfurecidas do furacão.

Tenho saudade das preces ensandecidas sem dono, dos porões machucados da verdade,

saudade da assustada fome dos frutos, do pesar orquestrado de espirro vencido,

saudade dos boletos rendidos das apuradas vertigens, dos remendos desalmados do talvez.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/12/2023
Código do texto: T7958612
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