Itanhangá

Lá donde eu vim

conhecia João e Maria por nome e sobrenome.

Hoje, aqui no costado desta planície de mil amores,

vejo a mistura do velho e o novo se confrontando.

Cerca de arame farpado dividindo os campos e os velhos grotões.

Aqui casei José, filho de Maricota,

uma festa que ficou para a história!

O primeiro filho, tão esperado

Batizei com muito agrado... uma linda criança!

Aqui, lavrei escrituras tão sonhadas:

pedaços de chão, terra batida,

cada um com o seu quinhão.

Mas, como estava dizendo,

lá de onde eu vim, de terras distantes,

meus bois carreiros eram vermelhos,

atendiam pelos nomes de Sol e Lua.

Eu ia à dianteira, pés no chão,

aboiando feito um delinquente juvenil,

deixando meus comandados em real perigo,

eu já vivia sonhando com outros mundos.

O tempo foi passando a galope e às vezes a trote

e, de lá, um dia me apartei,

foi quando me mudei

para bem longe daquele torrão Natal.

Não sei bem o porquê, de tanta inquietação,

nem sequer sei qual foi a verdadeira razão

de eu chegar até este mundão.

Agora, cá estou eu, prestes a dizer mais um doloroso adeus.

__ Tenho que voltar.

Já não me lembro de quase nada de minha distante cidade.

Dizem que tudo por lá mudou:

já não existe o ranger dos carros de bois de outrora,

nem as sombras dos coqueirais, que escondiam as lembranças e os segredos,

daqueles amigos de infância que lá deixei.

Nem sei se ainda esperam por mim. O filho pródigo!

Fecho os olhos na escuridão da noite, ainda assim, penso em voltar,

mesmo que não seja para os lados de lá.

Preciso ir, pra onde a vida me reclama.

Por ora e agora, quero lhes dizer que o amor que cultivei por este chão

está grafado e assinado, em cada uma das léguas por onde passei.

Esses registros serão certamente lembrados por mim,

como poemas de saudade e gratidão!

Sei que ficarão empilhados nas prateleiras dos meus inquietos pensamentos...

Presentes de todos os deuses.

Devo confessar que alguns empecilhos encontrei quando aqui cheguei.

Posso citar, entre eles, a dificuldade com a estrutura caótica dos meus entendimentos.

__ Ah, nada disso me tirou o foco!

A vontade de servir ao próximo e, especificamente, a este povo querido,

sempre falou alto e forte dentro de mim.

A luta do dia a dia me fez um Ser mais aguerrido e dócil,

as aflições que batiam com força bruta em meu peito

foram aos poucos se aquietando... sem pressa!

Alguns impedimentos burocráticos

foram resolvidos com total isenção.

Os obstáculos mais difíceis foram deixados para trás sem mágoa ou medo,

um a um, a par e passos certeiros.

Porém, a Vida é feita de movimento constante e bruto.

Enfim...

Senhor dos meus dias! Dias alegres e nunca vazios,

dias que não queria que chegassem ao fim.

__ Ah, a saudade será como um laço apertado no peito!

Este nosso encontro, mesmo que rápido,

jamais será como a flor que morreu no nascedouro

e não poderia ser diferente.

Às vezes temos que seguir... De verdade!

Vou como se nunca precisasse partir.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 18/12/2023
Reeditado em 18/12/2023
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