A BOCA DO TEMPO

Sou de um tempo

em que os relógios não me diziam nada

os adultos fumavam cigarros

e ainda havia trilhos de bondes

espalhados pelo chão da cidade

Sou de um tempo

em que tudo parecia durável

não sabia que existia velórios

e os aniversários serviam para comer

bolos, doces, pipocas e salgados

para depois me divertir com os brinquedos

que nos dias dos meus anos havia ganhado

Sou de um tempo

em que ignorava o que era o tempo

apenas que havia férias domingos e feriados

e o que pra mim eram lembrança

eram coisas que tinham acontecido

antes do réveillon do ano passado

Sou de um tempo

que a boca do tempo levou

e se ele anda hoje para a frente

pra mim eu o vejo andando para trás

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 17/12/2023
Reeditado em 17/12/2023
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