A BOCA DO TEMPO
Sou de um tempo
em que os relógios não me diziam nada
os adultos fumavam cigarros
e ainda havia trilhos de bondes
espalhados pelo chão da cidade
Sou de um tempo
em que tudo parecia durável
não sabia que existia velórios
e os aniversários serviam para comer
bolos, doces, pipocas e salgados
para depois me divertir com os brinquedos
que nos dias dos meus anos havia ganhado
Sou de um tempo
em que ignorava o que era o tempo
apenas que havia férias domingos e feriados
e o que pra mim eram lembrança
eram coisas que tinham acontecido
antes do réveillon do ano passado
Sou de um tempo
que a boca do tempo levou
e se ele anda hoje para a frente
pra mim eu o vejo andando para trás