NO MEIO DA SALA

 

George Gimenes

 

No meio da sala havia um elefante

Havia um elefante no meio da sala

Havia um elefante

No meio da sala havia um elefante.

 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio da sala

Havia um elefante.

 

Havia um elefante no meio da sala

No meio da sala havia um elefante.

 

 

(Outra homenagem paródica, desta vez ao icônico poema modernista "No Meio do Caminho", do brilhante Carlos Drummond de Andrade.

É possível que todos – cedo ou tarde – passem por uma situação constrangedora dessas…

Também não resisti em tirar uma onda para satisfazer alguns gramáticos puristas ao usar "havia" ao invés de "tinha", já que há controvérsias quanto à essa pureza 😉).

 

 


 

 

 

NO MEIO DO CAMINHO

 

Carlos Drummond de Andrade

 

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

 

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.

 

 

(Este poema de Drummond é, na verdade, uma crítica satírica ao famoso soneto "Nel Mezzo Del Camin…", de Olavo Bilac.  É uma inteligente tripudiação modernista ao paranasianismo até então reinante na cultura e poesia brasileiras.

Curioso ainda, é que, por sua vez, o soneto de Bilac é uma homenagem sua a Dante Aligheri e a "Divina Comédia", cujo primeiro verso lê-se "Nel mezzo del cammin di nostra vita"…

O poema "No Meio do Caminho" foi publicado no primeiro livro de Drummond, "Alguma Poesia" de 1930.  Este livro encontra-se disponível em nova edição de 2023 pela Editora Record).