Roga

dá-me dias para te viver

que todos os anos sejam bissextos

dá-me os feriados em teu nome

que saiam nas ruas felizes todos

que brinquem e dancem num sempre carnaval

dá-me tecidos para te cobrir

e se não forem suficientes a te esquentar

peço emprestado a camada primeira da terra

que fez e nutriu a vida

dá-me as palavras que eu não consigo te dizer

dá-me o chão que tu pisa

e o seu horizonte de sonhos

dá-me a calma e a serenidade

pra te entender

e se não for possível,

dá-me o tempo

pois o tempo sabe

dá-me o choro,

pois só nele

(e através dele)

é onde serei humano e frágil

é onde serei maduro

pra saber o que é riso

dá-me um pouco dá tua dor

e do passado ruim

que mesmo eu

paralisando de medo

vou tentar fazer luzir e aplacar

dá-me tua presença

ainda que pouca

pra mim, será total,

de invejar os deuses

eu,

um simples mortal.