Poesia: 203 - Gota d'água
Suave são os teus longos cabelos negros
Olho para ti do orifício do chuveiro
A última gota d'água do teu boxe íntimo
Enquanto você se destrai com os teus cosméticos
Fugirei da prisão impostas às águas encanadas
Livre, como gota de chuva, pousarei em teu corpo
Estou ciente da minha breve existência de gota d'água
Sei que o meu destino de gota é entrar pelo ralo da vida
Estou pronto para esta última aventura solitária
Pousarei em seus suaves cabelos negros de sedas
Deslizarei por eles até chegar aos teus seios macios
Um breve repouso neles agitaram as minhas moléculas
Ainda há tempo suficiente para um novo salto
Me aproveito das suas distrações com creme no rosto
Pouso, em cambalhota, em teu baixo ventre com pelos
Sei do tempo fugaz da minha existência nesse seu jardim
Pouco tempo me resta para sentir o sabor de tua relva
Minhas moléculas quase entraram em ebulição aqui
Como a vida humana é tão rica em prazeres físicos
Levo este segredo teu em minha penúltima existência
Tenho ainda um escorregadio tempo entre suas pernas
Me sinto tão vivo ao escorrer pelo seu corpo íntimo
Estou em seus pés agora, é o fim da linha para mim
Que milagre foi esse percorrer seu corpo distraído
Agora tenho que ir e me unir as outras gotas do ralo
Meu último olhar, a beira do calabouço, é para você
Dos teus pés tenho a visão da sua beleza nua de mulher
Como és bela mulher! Quantas vidas eu daria por você.