Alívios Diante da Peste
O vírus letal é uma fenda em que desgraças
Sem fim escorregam pelos pulmões alheios.
A mãe natureza gerou um dantesco inferno
Para dizimar todo homo sapiens e o mesmo
Não incomodar mais o seu habitat, as suas leis.
Mas meu ego, meu conatus, minha trilha sem rumo
É grande como o planeta, uma galáxia de desejos
Para mergulhar nas profundezas de uma vida
Ainda não vista, um Everest de alteridades.
Perante a tragédia injeto renovado sangue nas artérias,
Deixo fluir no crânio ideias que preencham a oca rotina,
Vivo um jardim de amor com os próximos, busco virtudes
Para persistir à batalha da vida com determinação
E abraçar o indeterminado caminho com intensidade.
Posso não viver mais um bocado de anos perante o risco de qualquer vírus,
Seja a covid-19 ou a peste que assolou Oran, mas morrerei para viver...
Transcendentalmente ser além do que sou, está adiante dos mornos dias,
Acrescentar ao meu presente outro agora, uma multiplicidade de experiências.
Eu serei muito mais que uma entediante carne a ser consumida pelo húmus,
Revirando as fezes do hoje, alterando as posições de consoantes e vogais,
Buscarei alívios com fervor e afagarei a dor num canto de sabenças.