O cantineiro
Eu era jovem.
Ele, já encanecido.
Todo dia ele chegava cedo.
Ia pra cantina,
Sua mina
De recursos da vida,
De amizades vividas.
A cantina lhe deu casa bela
E o filho doutor,
Lhe deu o sorriso dos pequeninos,
O carinho das normalistas,
O respeito docente,
A agitação adolescente.
Anos, anos e anos,
Deixando o café
Na sala dos professores,
Cumprimentando,
Rindo,
Respeitando.
Pegava a mão da gente,
Olhava no rosto,
Olhava nos olhos,
Dava um sorriso,
Dava um bom-dia,
Que era mais que rito,
Era espírito...
Um dia,
Saiu de trás do balcão
E foi pra trás do microfone.
Virou paraninfo,
Numa formatura de gala.
Não o ajudei no discurso,
Feito a quatro mãos,
Com Gotardelo,
Mas aplaudi muito
E até hoje aplaudo
O cantineiro João.