Todos, profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque fui ver na televisão
A Garrafa do Diabo
Na TV Itacolomi
E adormeci.
Hoje
Lembro Manuel Bandeira
E não ouço mais as vozes daquele tempo
Serenatas com Reinaldo
Jonba Freitas, João Albino
Pinga pra esquentar o gogó
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Drones espionando
Celulares controlando
Morcegos em minha mente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Um táxi, moto ou um jato
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Reinaldo, Robson, papai
Gerson, Eninho, Telminha
Mamãe e prima Terezinha
Minha avó Lurica e avó Isabel
Zé Vovô e Alexandre Pereira
Totônio Rodrigues e Totonho da Farmácia
Tomásia, Sambém e Messias Calu
Rosa, Enoch e Tostão do Missanta,,,
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.