DEIXO
Renuncio quem fui
A imagem que me apeguei
Como bote salva-vidas em meio à dor.
Deixo inatividade desconcertada
Na ausência do meu copo inebriante.
Renuncio à teima dos espinhos
Onde deliberadamente me afoguei
Aceitando do seu abraço o licor.
Deixo as falsidades esfaceladas
Desse passado que fui amante.
Renuncio às dores que fiz cama
E de toda lágrima que lá deitei
Na esperança de um salvador.
Deixo as palavras maltratadas
Das injúrias de um estudante.
Renuncio meu olhar suplicante
As palmas das mãos levantadas.
Deixo de lado meu retrato
Desconhecido que aceitei
Das imposições de meu perseguidor.
Não mais o retrato de um estranho,
Não mais as palavras praguejadas,
Nem cama de dores
Ou minha imagem retocada.
Não mais esse olhar frio,
Esse beijo sem sabores,
Esse abraço de estanho,
Má companhia disfarçada.
Deixo a apatia do meu calvário,
Corto os laços com a solidão,
Divorcio-me da tristeza profunda,
Desquito-me da exclusão.
Abraço-me para não mais soltar
Reconstruo-me, viro meu lar
Faço-me vida, a meu dispor
Renasço-me amor