Atravessando o tempo
Sem vida, passeia a ilusão, que se entristece nesse amor que habita em minha alma,
sinto que no ar, implícito sempre um mistério, e recordo tristemente... éramos árvores,
éramos voos ao infinito de cada um de nós, éramos feito meninos, filhos da esperança,
mesmo sem termos juntos qualquer futuro, numa loucura e lucidez, labirinto à dentro...
viajei em você que ainda mora nesse coração atento, mergulhado em lembranças.
Íamos sem olharmos o retrovisor, estradas. Você me fazia sonhar no que há de melhor,
a minha alma de tanto amor, transbordava. Éramos um futuro verde, cheirando a relva.
Era assim que além de pensar, lhe desejava... confidentes, a sua alma, a minha guiava,
em meio às minhas tantas tempestades. Tudo que vivemos está em meu peito gravado.
Esquecer você é impossível...
esquecer dos dias e noites que em separados, sonhávamos, ouvindo os gritos bonitos
dos mesmos passarinhos, lamentamos juntos as minhas perdas, eu me sentia sozinha.
Dissipamos tristezas... e os meus medos, muitas vezes juntos, choramos quando contava
dos meus pesadelos, em segredo.
Enxugou o meu pranto, e até juntos consolamos um ao outro, quantas vezes beijei, abracei
você, sem sentir o seu corpo... juntos, e separados, quantas luas cheias de longe olhamos.
Desilusão? _Não.
Sou um jeito de ir ao mar e me banhar sozinha nas ondas da nostalgia, para ouvir o barulho
suave das ondas que se misturam às lágrimas de saudade, olho mais uma e mais outra lua cheia,
de conchas colhidas nas mãos, sem ouvir nada, nem o canto encantado das sereias.
O tempo passa ...
Do mar imenso, sou só um riacho nele à desaguar, sem desejar o impossível, nas marés
do amor, os meus pés não irão se molhar... Os olhos da ilusão, já não enxergam os meus,
sendo a distância a mesma de outrora. Atravessando o tempo, almas sem audição,
e solitária, a minha sequer reclama a realidade de agora.
Liduina do Nascimento