TAYLOR SWIFT, BRITNEY SPEARS E OPRAH
(... do livro de crônicas "COMÉDIAS DO TIO LIVREIRO".
Que será lançado em 2024.
------------------------------------------------------
Justino arrastou quatro cadeiras e as organizou num formato de programa de auditório. Oprah chegou e já estava MUITO à vontade (até demais). Na verdade a casa já parecia ser dela, aquilo estava saindo do controle. As únicas pessoas na plateia eram a Taylor Swift... e uma amarga Britney Spears com crises de meia idade...barriguda e muito reclamona. Uma canção tocava num aparelho que só pegava CDs e fitas. A lente (aquela coisinha lá dentro que parece uma webcam) estava suja e os CDs não rodavam direito. Então eles escutavam fitinhas gravadas. Justino só tinha fitas das trilhas sonoras dos desenhos do Snoopy.
[Justino] — "Rain, Rain, Go Away", o nome dessa. - Ele disse sussurrando... e Taylor Swift e Britney aplaudiram com certa histeria. Oprah as encarou com reprovação... aquelas palmas não faziam o menor sentido! Justino não tinha dito absolutamente nada demais...! Taylor se recompôs e parou abruptamente... dando em seguida um beliscão na perna de Britney. Um silêncio se fez. ...
[Oprah] — "É uma música LINDA! Instrumental! Piano solo... Minimalista e extraordinária ao mesmo tempo! Todas as notas parecem repetir a súplica do título, "Chuva, Chuva... Vá Embora". Justino, você quer que a chuva vá embora? Quer dizer... nem dá para sabermos se está chovendo, realmente. Já que você FECHOU A CASA TODA. Só se a gente for na cozinha... Há goteiras por lá".
[Justino] — A música pede que "o mau tempo" se vá... e que tudo fique azul outra vez. E que as crianças voltem a brincar, correndo pelas praças. Caindo... se estropiando, ralando o joelho... as testas feridas, o suor... o choro em seguida. Era um choro sadio... de aprendizado. De cair pra se levantar e então, correr outra vez.
As palmas inevitavelmente vieram outra vez (Britney Spears se arriscou a dançar... levando outro tapão). — Chuva é limpeza. E o que ela leva com ela não volta mais. Nada será como antes. Talvez isso seja bom. Talvez seja ótimo.
[Ainda Justino] — ... me lembro de andar apressado pelas ruas de Salvador e começava a chover com força. Eu corria pra baixo de um orelhão e ficava lá, encharcando os pés... tentando não molhar o restante.
[Oprah] —"Por mais desconfortável que fosse... aquilo lhe fazia PARAR... um pouco".
[Justino] — Sim. Me fazia parar... E olhar em volta... respirar fundo. E nisso você vê quem ficou sem um orelhão e se molhou. Você vê além de sua dor... No fundo eu sabia que aqueles momentos eram maravilhosos. E que os orelhões deixariam de existir, dando lugar a celulares... psiquiatras, e remedinhos... grãozinhos de felicidade concentrada. Isso sem falar nas tantas... TELAS. A gente tinha tudo o que precisava pra ficar bem, nos orelhões.
... mais palmas. Britney Spears desmaia. Taylor Swift se afasta envergonhada com os passinhos de "Shake it off". Eis que de repente a voz de ELVIS PRESLEY invade o ambiente e todos ficam mudos. Ele cantava "Crying in the Chapel". E sua voz era doce... e grave. Ele era doce e grave. Como uma mordida num churros em porta de escola primária (doce antes de tudo explodir em testes surpresas e atividades pra nota).
[Justino] — Oxi...! Que é que o ELVIS veio parar na minha fita? E também como personagem do livro?! Eu que não chamei...
[Oprah] —Ah... é o Elvis, ué. O Elvis têm dessas coisas...
Justino encarou o aparelho de som, como quem vê... Revoluções.