TEMPANDO
O tempo, maroto como ele só, transforma o casal em pai e mãe.
Aquele olhar lânguido, o cheiro safado, o lamber das línguas selvagem...cadê???
Viram cuidado maternal e paternal, com todos seus penduricalhos de praxe,
Este tempo, capaz como ele só, muda regras do jogo, muda a temperatura da vida,
coloca numa calmaria o fogo alucinado de outrora.
É o jeito de suportarem as rédeas do envelhecer e o avistamento do fim da trilha.
É o jeito de não se rebelarem diante das dores e poréns dos dias.
Mas esse tempo, astuto como ninguém, não consegue tocar nos pensamentos de ambos, não mesmo.
Assim podem dar vazão à lascívia que já reinou, ao destempero que se fez tão latejante.
Daí os dois vão se amparando um no outro neste entardecer teclado com calma e ternura.
Até o dia em que não terá mais razão de voar, de ressabiar, de ser o que for.