DEVAGAR, PRA QUÊ A PRESSA?
(lembrando Manoel de Barros)

O nada é um país
onde as ruas nascem tortas.
Ninguém discute a razão,
porque é assim, porque não.
Ali há vagar, não há pressa.
É indício de preguiça,
ou, talvez, problema interno,
porém é possivel que seja
uma carência de pregos.
Prego é um objeto
que tem uso os mais diversos,
mas é um tanto volúvel,
nada, nada lhe interessa.
Muitas vezes se enrola
porque rola, rola, rola
pensa ser uma arruela,
passa um bom tempo perdido
sem nem saber o que era.
Deixa, portanto, que o prego
se ache a si mesmo, não liga,
não há motivo pra briga,
dá muito trabalho pensar.
Por isso não penso
e me encosto
num raio de sol que declina,
no mesmo lugar em que ontem
vi nascerem diamantes
da boca de um sapo cantor.



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