A INSANIDADE DA REALIDADE
O dia amanheceu assim:
Não há café pronto
Não há leite na geladeira
Não compraram pão;
Esqueceram da manteiga e do presunto
O chão da casa não foi varrido.
Ouve-se choro de criança
A vizinha atiçando barraco na rua
A mulher da taberna foi alvo de assalto
As prostitutas foram tapeadas pelos clientes
As ruas do bairro estão esburacadas
O Prefeito esnobando com dinheiro público.
A empregada resolveu abandonar o emprego
A esposa resolveu se encontrar com amante
Os filhos se envolveram no tráfico
O cachorro de estimação foi embora de casa
O sol resolveu escaldar o dia
Os doentes mentais estão no bar bebendo.
A caminho do trabalho:
O carro resolveu dar pane
O guarda municipal me deu multa
O motoqueiro me xingando
Meu celular, o assaltante levou
Meus cartões de crédito são guilhotina.
A mãe saindo do motel com pastor
O pai saindo do motel com a sogra
O patrão foi filmado traindo a esposa
O gerente do RH, se assumiu homossexual
José, pai de família, se tornou gigolô
A Creuza, a crente, virou rameira.
O mundo está deturpado
O dia já amanhece bizarro
Dane-se as regras, as leis, as normas
Uns traindo, uns se fudendo, outros se matando
Famílias se amando, famílias se destruindo
A escola fingindo se preocupar com ensino.
O mundo está banalizado
O que era certo se tornou errado
E o errado se tornou verdade.
A mentira usa o uniforme da verdade
Já a verdade se veste como mentira.
Ideias mal interpretadas prejudicam o povo.
O dia está uma desgraça para
O aposentado que não recebeu o estipêndio
A viúva tendo dificuldade de sustentar os filhos.
O industriário preso por praticar latrocínio
O editor virou morador de rua
A criança pedindo dinheiro para comprar comida.
Uns cantam para não enlouquecer
Uns escrevem para apaziguar a dor
Uns leiam para se anestesiar
Uns lutam para sobreviver
Uns suportam para manter-se forte
Uns se enclausuram para não se infeccionar.
Enfadonho dia foi ter que ouvir e ver
Felinos brigarem no telhado de casa
Duas meninas comendo frutas para não morrerem de fome.
Dois bêbados se matam por amar a mesma mulher.
A mãe e o pai discutem sobre o filho abana-mosca.
Duas anciãs exercitando os maxilares à base de insultos.
O dia termina sem mesmo:
Não ter comprado meu jornal
Não ter lido a poesia de Tal Nitzan
Não ter ido à Sinagoga
Não ter ouvido a Acheinu Kol Beis Yisroel
Não ter ido ao bar mitzvá.
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30/11/2023 às 08h39