Pó da Alma
Meu pensamento paira em branco gesso.
Mesmo as folhas verdes não desviam o olhar.
O nada da cor não há de ter significados.
E por que procuraria por um ?
Talvez seria mais cômodo viver sem eles...
Não mais forçar arrancá-los à fórceps do mundo.
Que adianta fazer força para arrancar
o que não pode ser arrancado apenas apreendido ?
Eu já sei que a vida não fica parada na calçada
a espera que alguém a leve pela mão.
Para ser vivida, ela é.
E eu também o sou, para viver.
Lógica conclusão. Isso é coisa para se dizer ?
Dever ser. Afinal não estou mais muda
como por tantos séculos o fui.
Minha voz floresce como a névoa
que cerca a montanha.
Ou se prateia em lua a roçar
um céu anil de reflexão.
São coisas que me cruzam
e me levam à pensar...
Por isso agora tenho pés de barro.
Cavo buracos profundos em minha alma.
Lanço a pá e o barro sai... guiado por minha mão.
Como um poema que faz a alma flutuar
em águas plácidas, mas ardentes de luz...