FLUÍDO

Meu verso chama tudo de caminho,

Feito uma bateia no garimpo:

Contém rio, e nele é contido.

Das horas, e seus falsos infinitos,

É dever do poeta de ofício

Colher o luxo, e também o lixo,

Acender bombas, apagar pavios,

Ver com outros olhos: ler o não lido.

E sob a noite alta, decassílabos…

(Mas poemas não têm fim, nem início).