Meu desassossego
Que desassossego me invade
Quando penso na possibilidade das mil possibilidades pensadas?
Das mil possibilidades perdidas?
Que posso eu, sujeito oculto, escondido, esquecido, numa multidão de gente tão estranha?
Que posso eu, andarilho no meio de tantos andarilhos,
Eu que já pensei poder tanta coisa
E, no entanto, concluo que não posso nada
Sonhos meus, sonhos meus
Sonhos adiados porque não eram pra mim
Dor perene, dor sempre presente
Que seria de mim, eu que não sei nada,
Eu que já pensei saber tanta coisa, saber mais que Eimstein, e Newton, e Copérnico, mas não
Se soubesse o que seria mesmo sem querer sê-lo?
Tantas e tantas conjecturas
No fim são conjecturas
Não posso imaginar coisas antes delas acontecerem
Antecipar o futuro, prever o que virá?
Não. Não gosto da ideia de antecipar o que não aconteceu
Prefiro a imponderabilidade mesmo que me cause espanto
Defrontar-se com o inesperado tem seus riscos, é verdade
Mas não defrontar-se é não conhecer a graça da possibilidade de não saber
Não saber, há algo mais proeminente do que ter a possibilidade de aprender?
É isso que não saber tem de valioso
Não saber para aprender
Ontem morreu um velho conhecido, disse meu vizinho de muro
Lamentei a perda
E seguimos nossas impressões sobre o acontecido e sorrimos para a moça que passava no seu vestido florido