O tempo futuro

Eu não peço nada mais que direito ao tempo futuro.

Estou farto do tempo passado

Do tempo onde tudo já aconteceu

Onde tudo foi, mesmo sem eu saber ou poder dar qualquer palpite

O tempo passado me corrói como se uma navalha atingisse minha carne

Sinto calafrios só em pensar nessa possibilidade

Sinto o suor percorrer a espinha como se a intangibilidade do acaso estivesse no liminar da corda no pescoço

Sinto o tempo passado me perseguir como o caçador persegue a presa

Serei a presa de um tempo que não quero cultivar?

Preciso do direito ao tempo futuro

Preciso como tábua salva-vida

Senão o passo seguinte

O passo que talvez signifique a minha salvação

Pare o ponteiro às 3 horas e já não fará diferença se de madrugada ou numa tarde sentado num banco de praça olhando o velho do realejo

Afora às conjecturas, às imperfeições

Nada mais me apetece que uma generosa xícara de café

Gosto de café como se no gole seguinte eu encontrasse a fonte da juventude

Reivindico o direito ao tempo futuro como se a cada gole de café um pouco mais de tempo se somasse ao meu calendário

Mais tempo futuro

Estou farto de tempo passado

Estou farto do já acontecido

Quero o que virá acontecer